24/07/2010

Idas e vindas

Hoje eu acordei com um nó na garganta e com o coração tão atrapalhado quanto o equilíbrio de uma criança com o cadarço do tênis desamarrado. Fria. Seca. Com os sentimentos quase empalhados e as lembranças a flor da pele. O vento que entrava pela janela nunca havia sido tão frio e meus medos nunca haviam se entrelaçado com tanta intensidade por meus fios de cabelo.

Uma confusão de odores e sabores invadiu minha alma trazendo a mesma sensação petrificadora que é mergulhar em seus olhos cansados. A temperatura cortante dos tacos de madeira velhos e úmidos do quarto dilacerava qualquer tentativa de caminhar até a porta. E ainda que o chão fosse morno e convidativo eu não conseguiria mover meus pés ou sequer pensar em como chegar até você. Meu corpo reage a sua presença. Sinto leves choques, tremores, lágrimas insistentes. Esqueço de respirar, de resistir e lutar. Passo a conhecer apenas o encanto que é suspirar e me entregar.

Ouço então as três batidas na porta, como de costume. Sei que você está por perto sem nem ao menos me esforçar. Realmente, você nunca foi de muitas surpresas. Antes de aparecer, manda sempre a melancolia e a tristeza antecipadamente me obrigando a trocar os lençóis da cama ou o endereço do meu peito. Eu, que nunca fui resistente, escolho disfarçar a poeira que sua ausência causou a minha vida e abrir as portas da minha alma mais uma vez.

Você chega, senta na beira da nossa cama e permanece lá com um sorriso de canto. Fazendo com que eu pense angustiadamente se você sorri para mim ou se da gargalhadas do estado deplorável que suas partidas súbitas originam em meu cotidiano. Sento-me ao seu lado e encosto a cabeça em seu ombro sujo de orgulho e infestado de devaneios mal realizados. O beijo com todo o meu desejo. Entrego meu corpo com todo amor e carinho. E, repentinamente, nada mais está congelado. Meus medos escorregam como se meus vasos sanguíneos fossem trampolins para a forca.

Eu peço para que seja sincero com meus sentimentos e você me promete que, dessa vez, será para sempre. Novamente, encabulada, me pergunto se será eterna a próxima partida ou esta nova chegada. Luto contra o sono que prega meus olhos e atormenta meu juízo. Não quero dormir. Não posso perder um minuto da visão maravilhosa que é estar deitada ao seu lado. E sei que, sem dúvidas, ao amanhecer estarei nua por dentro e amargurada por fora. Sem ter em quem recostar, sem ter alguém para amar. E contanto os segundos para que a dor se aposse de mim novamente como um aviso de que, mais cedo ou mais tarde, você voltará.

5 comentários:

  1. Além de um blog de ótimo layout, você sabe bem o que faz com as palavras.

    Esse texto me veio num momento interessante.
    Ajudou a digerir algumas de minhas loucuras sinceras.

    Eu vou seguir e ver se você consegue solucionar outros mistérios que moram por aqui.

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  2. boas palavras, fortes emoções. Bonitos são os textos escritos com sentimentos, você tem dom pra isso. Trabalhe mais e leia mais. Com certeza será uma ótima escritora :D
    parabéns

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  3. Seus textos sempre são bons e sempre descrevem algum tipo de sentimento que eu tenha. Lindo!

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  4. seguindo o seu blog amor , amei os seus textos :D segue o meu tb .
    http://dayanedro.blogspot.com/

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  5. Novos talentos surgem a cada dia. Parabéns.

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Obrigada pela atenção ;)