Uma confusão de odores e sabores invadiu minha alma trazendo a mesma sensação petrificadora que é mergulhar em seus olhos cansados. A temperatura cortante dos tacos de madeira velhos e úmidos do quarto dilacerava qualquer tentativa de caminhar até a porta. E ainda que o chão fosse morno e convidativo eu não conseguiria mover meus pés ou sequer pensar em como chegar até você. Meu corpo reage a sua presença. Sinto leves choques, tremores, lágrimas insistentes. Esqueço de respirar, de resistir e lutar. Passo a conhecer apenas o encanto que é suspirar e me entregar.
Você chega, senta na beira da nossa cama e permanece lá com um sorriso de canto. Fazendo com que eu pense angustiadamente se você sorri para mim ou se da gargalhadas do estado deplorável que suas partidas súbitas originam em meu cotidiano. Sento-me ao seu lado e encosto a cabeça em seu ombro sujo de orgulho e infestado de devaneios mal realizados. O beijo com todo o meu desejo. Entrego meu corpo com todo amor e carinho. E, repentinamente, nada mais está congelado. Meus medos escorregam como se meus vasos sanguíneos fossem trampolins para a forca.
Eu peço para que seja sincero com meus sentimentos e você me promete que, dessa vez, será para sempre. Novamente, encabulada, me pergunto se será eterna a próxima partida ou esta nova chegada. Luto contra o sono que prega meus olhos e atormenta meu juízo. Não quero dormir. Não posso perder um minuto da visão maravilhosa que é estar deitada ao seu lado. E sei que, sem dúvidas, ao amanhecer estarei nua por dentro e amargurada por fora. Sem ter em quem recostar, sem ter alguém para amar. E contanto os segundos para que a dor se aposse de mim novamente como um aviso de que, mais cedo ou mais tarde, você voltará.