E eu que sempre fui de uma
sinceridade absoluta e engolidora, hoje me vejo sem voz. Com medo de dizer que
não te quero e que preciso de um longo tempo distante de você. Medo de olhar em
seus olhos, deitar no seu abraço e esquecer em segundos todas as promessas que
faço a mim mesma durante horas a fio dos meus dias, como as duas últimas em que
eu prometi ir embora para sempre da sua vida e não me apaixonar pelos seus
defeitos. (Falhei nas duas.) Medo de toda essa confusão dentro de mim estar
acontecendo justamente por eu ser tão sincera a ponto de não conseguir o
enganar com essas mentiras que estou tentando me fazer acreditar repetidamente
desde o dia em que te conheci.
Tenho medo de estar entregando meu coração
a alguém que não saberá cuidar (e eu sei que não saberá, ninguém sabe). Medo de
você ser mais um que não conseguirá me entender, que não tentará ler minhas
entrelinhas, que não procurará desvendar meus mil e um mistérios escondidos
dentro do peito, que não terá tempo para as minhas histórias bobas e sonhos de
criança. Medo que você, como todos os outros que passaram pela minha vida, um
dia desista da minha tamanha complexidade. (Eu sou uma bruxa maluca. Consigo
passar da alegria extrema ao choro mais infeliz em fração de segundos. Sou
carente. Sou uma criança cheia de sonhos e desesperada por balas, doces e brincadeiras.
Sou birrenta, vou bater o pé até que alguém seja firme – firme não quer dizer estúpido
– e diga não. Sou imperfeita. Mudo de ideias como mudo de calcinha. Sou eu, eu,
eu e mais ninguém dentro de mim.) Não é qualquer um que consegue me decifrar.
Tenho medo de encarar esse seu estilo
de vida extremamente louco e diferente do meu. Medo também do quanto isso
poderá interferir na nossa relação um dia. Diferenças, na vida real, só afastam
as pessoas. Apenas em filmes é que essa história da “princesa e o sapo” pode
dar certo. Morro de medo também dessa sua liberdade in-ve-já-vel e do que
acontecerá quando eu não puder te acompanhar. E isso acontecerá inúmeras vezes,
acredite. Porque, ao contrário de você, sou um pássaro na gaiola.
Tenho medo de descobrir o quanto de
tudo o que você me diz é verdade. Medo de até quando vai se manter acesa em
você essa paixão que tem por nós dois. Medo de quanto tempo será capaz de
esperar até que sejam cessados todos esses meus medos. Medo de estar sendo
medrosa demais e te deixar escapar. Medo de não ser medrosa e me magoar. Medo
que você seja o cara certo porque ainda não estou preparada para isso. Medo que
você seja o cara errado porque eu também não estou preparada para isso. Medo de
sentir demais. Medo de ser insensível demais. Medo de me entregar. Medo de
fugir. Medo de errar. Medo de acertar. Medo do futuro e de cada passo que estou
dando no presente. Medo de aceitar que você é um presente e, simplesmente, te
tirar da caixa e adorar. Porque eu também posso não gostar e querer guardá-lo
na caixa novamente e te mandar direto para o meu passado e, com isso, fazê-lo
sofrer. Medo de entrar na dança. Medo de jogar mais uma partida de incertezas e
indecisões que é o amor. Medos que não se acabam nunca, que não se descrevem
com palavras. Simplesmente medos.
— Iasmin Flor